Afinal, o que nós, mulheres incríveis, queremos?

O mês de março deveria ser um período de celebração das lutas das mulheres em detrimento de mais justiça e equidade em diversos campos da nossa vida. Imagina que louco: podemos escrever nesse blog, podemos ler, podemos estudar, podemos trabalhar e até votar porque algumas lutadoras antes de nós conseguiram esses direitos pra a gente.

Acredito que essa premissa é um consenso até nas opiniões de mulheres que não se consideram feministas, já que ainda associam o termo a coisas supostamente ruins – fato que apenas desacelera as mudanças desejadas por todas nós. Aliás, estou pensando em um projeto fotográfico sobre esse tema, mas depois conto mais!

Essa postagem foi sugerida pela Beatriz Aguiar, autora do blog Since 85 e criadora do grupo mais amor que já participei na vida: “Projeto Vai um Café?”. Primeiramente, esse tipo de mobilização é fundamental para reunir as escritoras e escritores de blogs que acabam influenciando muita gente por aí. E se a gente se organiza pra falar de um assunto que AINDA parece tabu ou mimimi, a gente se fortalece ainda mais. Então Beatriz, MUITO OBRIGADA pela iniciativa. É formidável ver que estamos todas juntas nessa luta por direitos iguais!

Como eu acabei lendo bastantes textos com esse título, percebi que as maiores reivindicações das pessoas giravam em torno da palavra respeito. Então já que houve muita gente falando de forma genérica sobre o que nós queremos, hoje vou ser um pouco egoísta e falarei o que quero com o meu feminismo, do ponto de vista prático e tentando não suplicar que as pessoas me reconheçam como ser humano.

Farei uma listinha, porém adicionarei comentários em itálico ao lado. Ah, como vocês verão, vai ser um desabafo daqueles:

  1. Quero respeito na rua, dentro de casa e nos ambientes profissionais. Gente, eu preciso mesmo pedir isso? Não deveria ser fucking obvious?
  2. Quero que a minha vida sexual seja respeitada, afinal o corpo é meu. Minha gente, o que você tem a ver com essa minha história tão íntima? Por que você continua esse babaca hipócrita que separa as mulheres em santas e putas, em pra comer e pra casar? Qual o seu problema, honey? Você precisa de um psicólogo, sério. E coitada da companheira que está ao seu lado.
  3. Quero não ter medo de sair e ser estuprada por um cara desconhecido ou até alguém de confiança. Minha gente, estamos aqui falando de integridade física. E ainda tem gente que culpabiliza a vítima. PARA O MUNDO! TÁ TUDO ERRADO!
  4. Quero que o governo desenvolva cada vez mais iniciativas por lei que ajudem a equidade dos direitos das mulheres. Uma mulher teve que sofrer duas tentativas de assassinato e ficar tetraplégica pra que uma lei deixasse o crime de violência contra a mulher mais rigoroso e em pleno 2016 você pode ser humilhada em uma delegacia porque o machismo impera e nem quando você sofre violência e vai pedir ajuda às entidades supostamente responsáveis você tem o direito de ser bem atendida. Ufa. ONDE ESTÁ A MINHA NAVE ESPACIAL?
  5. Quero a legalização do aborto. Ou seja, quero a radical ideia de uma mulher decidir o que fazer com seu próprio corpo. E reitero: se você é religiosa e na sua religião é proibido questionar o aborto, friend, então não aborta, mas o nosso Estado é laico, então deixa a sua opinião para você e seus amigos que creem. Ou seja, continue sem abortar e fortaleça essa crença na sua comunidade. Fim do problema!
  6. Quero que as transsexuais sejam respeitadas e que coisas básicas como a troca de nome sejam aceleradas na justiça. Poxa, custa você ser chamado pelo nome que você se sente bem e não pelo nome que te enclausura em um corpo que você não se identificou por toda a sua fucking life? 
  7. Quero a liberdade de querer ter minha filha ou filho do jeito que quiser, sem violência obstétrica. Ih, aqui entra o fato monetário e isso complica tudo. Nenhum hospital quer ficar sem faturar, nem quer manter uma mulher parindo por mais de 12 horas em seus quartos. Eu realmente não consigo ver opção além de pessoas independentes ajudando as mamães que dão prioridade para o parto humanizado. Que complicada essa questão! 14130537089_120949f58d_o
  8. Quero respeito nas propagandas e não quero ser considerada um pedaço de carne nas campanhas publicitárias de cervejas e afins. Poxa, lembro do programa Pânico e quero vomitar com aquele rebolado infinito e inútil das dançarinas. Que exploração terrível!
  9. Quero ganhar o mesmo salário de um homem que tem as mesmas tarefas do meu cargo. MINHA GENTE, ONDE ESTÁ A LÓGICA DISSO NÃO OCORRER? Não faz nenhum sentido receber menos pelo mesmo trabalho só porque eu nasci com uma vagina maravilhosa. Por favor, né?
  10. Quero que a gente se una e se respeite, porque as mulheres são diferentes e cada grupo (e cada uma) têm distintas necessidades. O feminismo negro tem bandeiras que mulheres brancas simplesmente não entendem porque nunca foram expostas a absurdos como o racismo, por exemplo. Então vamos abrir a nossa mente para abraçar todas as manas e dar voz a cada uma delas! E a empatia está aí pra a gente se amar cada vez mais e compreender como as demais se sentem, né non?14337440903_e18c5ed833_o

Enfim, ufa. Eu avisei que era um desabafo. ❤

Me conta nos comentários se você se identificou com algumas das minhas reivindicações!

As fotos foram tiradas por mim na slutwalk de Recife, PE, Brasil, em 2014. Para ver mais fotos desse protesto, corre aqui no meu flickr.

18 comentários Adicione o seu

  1. Ficou ótimo !!! E necessário !!!

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      1. “Tamu junta” era uma Espressão usada na minha família como um bordão do meu pai e do meu tio … É também é usado comigo e com a minha amiga Sidineia 💗🙏🏻🙌🏻

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  2. Como posso clicar em “gostei” um milhão de vezes? Não tem como ler esse texto sem se identificar com seu desabafo, são tantas coisas ruins que vivemos em coletivo, como mulheres, que não sei pq não lutamos contra elas juntas também. O feminismo tem que perder logo esse estigma e fazer parte do cotidiano de todas nós! ❤
    Amei as fotos e aguardo o ensaio! 😀
    Beijos!!!

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    1. Eu ainda sou taxada de feminazi por acreditar na loucura de que tenho direito sobre meu próprio corpo. PELAMOR, QUE MUNDO É ESSE?

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  3. Palmas e mais palmas, Aline! Acho um absurdo a mulher encontrar dificuldades na hora de escolher como será o parto, sabe? Tanto para o humanizado, como para a cesária! Existem tantas coisas óbvias, que me emputece o fato de ainda acharem que é mimimi. Meu Deus, o post ficou perfeito!

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  4. Misa Palahniuk disse:

    Pouco me importa o que dizem, o que pensam, o que querem de nós. Sei, sei que as coisas estão realmente mudando.
    Vejo mulheres mais unidas, mais fortes, empoderadas. Vejo ajuda mútua em quase toda parte. Me emociona quando cada mulher violentada encontra uma amiga pra se apoiar. Em muitas mulheres me apoiei, muitas em mim se apoiam.
    O caminho é longo, mas eu acredito fielmente na nossa liberdade. Abraços libertários.

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    1. Tamo junta! ❤ E acho que só tem esse caminho do otimismo mesmo, porque não dá pra retroceder (mais). Vamo pra frente! o/

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  5. Debora Pizolito disse:

    Oi, Aline! Senti falta de te ler por aqui… Concordo com absolutamente tu-do que desabafou! E sei que essa lista, infelizmente, só aumenta 😦 Por outro lado fico muito feliz com a tomada de consciência do feminismo e de como ele tem crescido e sido abraçado por cada vez mais mulheres! Juntas venceremos! ❤
    Ah: você pode me dizer como faz/se dá para entrar nesse grupo/projeto Vai Um Café? Já vi algumas outras vezes por ai e sempre me interesso, mas não sei como funciona 😦 Se puder me informar ficarei grata! Beijos!!!

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    1. Que feliz! Tamo junta, Debora! Que legal que sinto que o mundo das blogueiras também se posiciona! Adorei e me sinto mais forte perto de mulheres incríveis e que tomam partido como você ❤ ❤ ❤

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  6. Vanessa Dias disse:

    Mulher, como seu texto me inspirou. Como você é delicada e direta para falar de um tema tão importante, como é singela da maneira mais positiva possível. Eu gostei DEMAIS, obrigada por compartilhar isso. Juntas podemos mais, hoje e sempre.

    http://www.saborabsinto.com.br

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    1. Vanessa, que feliz te ter por aqui! Muito obrigada por aumentar essa corrente do bem e a caminho de dias mais incríveis, seguros e melhores para nós mulheres o/ que a gente fique juntinha lutando desde as pequenas batalhas diárias até às mais tensas e aparentemente sem solução (como obrigar uma mulher a ter um filho fruto de um estupro? você sabe? 😭). acredito que por causa de pessoas como você (que se posicionam) a gente tá fazendo um lugar mais legal pra se viver o/ ❤️❤️❤️❤️❤️

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  7. Vanessa Dias disse:

    Meu comentário foi publicado? ‘-‘

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    1. opa, foi sim! é que tenho moderação (mas porque nunca lembro onde muda isso hahahaha). mas quem já comentou uma vez não passa mais pela moderação 💗

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  8. K disse:

    seu texto foi o meu preferido dessa blogagem coletiva ♥ me representou demais! acho que a parte mais importante de tudo que queremos é a parte de se unir e se respeitar (diferentes, mas em busca dos mesmos direitos, sem intriguinhas), porque só assim teremos mais força pra conquistar todas as outras coisas!

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  9. Eu simplesmente amei, me vi em cada palavra. Fiquei tão feliz por terem desenrolado tantos textos magníficos como este seu. Gratidão, Aline! Pelo texto, pelo amor nas palavras, pela luta diária de ser mulher vivendo em um outro país e por amar o nosso grupo. Gratidão!

    Um beijo enorme.

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